
A sexualidade humana é, em sua essência, uma energia psíquica direcionada para a auto descoberta e para o vínculo com o outro, através do prazer.
Desde o início dos tempos, alusões à sexualidade humana puderam ser observadas. Também mitos, crenças e tabus sexuais são passados de geração à geração, segundo a tradição de cada cultura. As diferentes orientações sexuais existentes (homossexualidade, bissexualidade e heterossexualidade) nem sempre possuem a liberdade de expressão que o discurso liberal propaga na contemporaneidade.
No século XIX, a medicina definiu a homossexualidade como doença fisiológica causada por distúrbios genéticos ou biológicos e, no início do século XX, a psicanálise a categorizou como anormal definindo-a como distúrbio da sexualidade. Na década de 60 apareceram os primeiros movimentos gays e, na seqüência, a Associação Americana de Psiquiatria afirmou que a homossexualidade não é uma doença, negando a existência de causas psicológicas específicas, situando-a no quadro das orientações sexuais. Mas, será que houve realmente uma modificação?
O trabalho psicoterápico com a população homossexual, envolve a avaliação de crenças pessoais e do ambiente social, identificando as mensagens recebidas sobre o próprio eu e a sexualidade, com o objetivo de compreender as dificuldades em relação à auto-aceitação. Envolve ainda consolidar uma identidade gay positiva, identificar evidências reais e fantasiosas e desenvolver junto ao indivíduo uma rede social de amigos, independente da orientação sexual destes. Também é de grande relevância trabalhar o preconceito sobre si, que permeia os pensamentos de muitos homossexuais.
A priori, poderíamos considerar nossa cultura como privilegiada no que tange ao tema orientação sexual, pois se fala sobre a mesma. Porém, há uma grande discrepância entre a linguagem falada e a postura adotada em nosso cotidiano, visto a repressão mantida frente a diversidade de condutas, fazendo com que a determinação de com quem realizar o ato sexual prevaleça sobre a manifestação de um afeto, o que acarreta a vivência de uma sexualidade “condenada”, que denigre o diferente.
A psicoterapia visa auxiliar os indivíduos homossexuais a lidar com o preconceito que perdura em nosso meio, através de heranças de valores e crenças, de acordo com nossas percepções. Entretanto, muitas vezes, na tentativa de ajudar a lidar com estes preconceitos, protelamos essa possibilidade ao observar que, geralmente, o preconceito permeia os pensamentos dos próprios indivíduos, remetendo-os a conflitos ainda maiores. Ou seja, transpor o preconceito de si mesmo pode ser mais difícil de lidar do que pensar que este só existe nos outros.
O indivíduo, expondo o preconceito que tem de si mesmo, demonstra baixa auto-estima. Contudo é possível trabalhar este tema, resgatar a auto-estima, trabalhar valores e referenciais significativos para o individuo, proporcionando, assim, uma melhor qualidade de vida para o mesmo.
Seres humanos são movidos por emoções na ânsia de viver e buscar a felicidade, somente completa se nos sentimos bem conosco. Torna-se imperioso assumir o próprio desejo e, para tanto, trabalhar nosso modo de ver e viver nossa sexualidade, independente da orientação da mesma.
de Grazielly Rita M. Giovelli ¹ e Rosângela Dall’Agnol ²
¹ Psicóloga. Voluntária do Serviço de Atendimento Terapêutico do GAPARS e Coordenadora do grupo de Voluntários do GAPARS.
² Psicóloga clínica. Coordenadora voluntária do SAT GAPARS.
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