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domingo, 24 de junho de 2007

POLÍTICOS DE AGAMENON A CHICO PINTO

No livro Rompendo o Cerco, coletânea de discursos e frases do ex-deputado Ulysses Guimarães, há uma recomendação: “Político não compra, nem vende”. É pensamento para reflexão na temporada bovina (a expressão é de Ricardo Boechat), que empurra para o abismo a carreira do senador Renan Calheiros e arrasta para o pé da fogueira o próprio Senado, já chamuscado pela cumplicidade e a inércia que enchem o caso de suspeitas.

O pensamento citado no livro sobre Ulysses é da autoria de Agamenon Magalhães, ex-governador de Pernambuco. Ambos, porém, falavam de outra época e de outra estirpe de parlamentares e homens públicos. De figuras como o ex-deputado pela Bahia Francisco Pinto, que em sua Feira de Santana, de história ligada à pecuária, em lugar de acumular fortuna, perdeu bens e saúde na atividade política e parlamentar, sempre ao lado das mais dignas lutas democráticas travadas no País nas últimas cinco décadas.

Chico Pinto passou as últimas três semanas entre a UTI e um apartamento hospitalar, antes de receber alta médica esta semana para passar os festejos de São João com a família e antigos companheiros na cidade que sua atuação e presença incluíram como símbolo de resistência no mapa político nacional, entre os anos 60 e 80. Horas antes de o médico mandá-lo para casa, fui vê-lo no Hospital da Bahia – 78 anos, deitado no leito, mas com toda lucidez e vigor intelectual que fizeram dele fora de série da política nacional.

Chico lembra com respeito político de Miguel Arraes e, com admiração pessoal, fala sobre Virgulino Ferreira, o Lampião, e seus cangaceiros. Confessa ser leitor atento de tudo que se escreve e se publica sobre eles. Lembramos juntos dos comícios memoráveis em Feira, em que ele pontificava como tribuno empolgado e empolgante, piteira com cigarro permanentemente aceso entre os dedos. Mesmo diante da doença e do pneumologista ao lado, pede para não falar mal do cigarro. “Deixei de fumar, mas o cigarro me traz boas lembranças. Seria como falar mal de um velho amigo: acho isso mau-caratismo”.

Melancolia quem lhe provoca mesmo é Brasília. E mais ainda, ver “companheiros de esquerda” envolvidos nos repetidos escândalos atuais. “Falta alguém para agarrar na gola do paletó dessa gente, balançar o pescoço e gritar: o que vocês estão fazendo? Querem botar tudo a perder outra vez, depois de tanta luta e sacrifício?”. Eis o político e o parlamentar avesso a compra e venda de que falam Ulysses e Agamenon.

Comecei a perceber isso ainda adolescente, quando fazia política estudantil e campanha para Arraes na margem pernambucana do Rio São Francisco. De noite, atravessava a ponte para ir aos comícios de Waldir Pires em Juazeiro, que disputava o governo da Bahia em 1962. Ganhei com Arraes e perdi com Waldir. Francisco Pinto foi eleito prefeito de Feira.

Em Salvador, pouco tempo depois, deram-se os encontros pessoais. Primeiro, como militante estudantil em Salvador e, depois, como repórter de A TARDE e da sucursal do Jornal do Brasil. Chico Pinto despontava como referência nacional no combate à ditadura e seus delegados na Bahia.

Pinto vem aí, curta-metragem de Olney São Paulo, deu imagens reais ao que, para alguns, não passava de mito. O filme ganhou o Prêmio JB, ano 76, no festival de curtas que o jornal carioca onde eu trabalhava promovia. Olney, que Glauber Rocha chamava de “a primeira vítima do cinema novo brasileiro”, morreu de enfarte aos 41 anos. Tempo suficiente, porém, para produzir obras notáveis, como os longas Grito da Terra e Manhã Cinzenta (premiado no festival de Oberhausen, na Alemanha), e o curta empolgante sobre seu conterrâneo de Feira de Santana.

Na brochura Pequena História de Uma Época, leio um resumo dos principais discursos de Chico Pinto como deputado fundador do grupo Autêntico, que combatia o adesismo no MDB, presença decisiva nos principais episódios de resistência à ditadura e ao entreguismo.

Entre eles, o de repúdio ao ditador chileno Augusto Pinochet, sentado na primeira fila da Câmara dos Deputados na solenidade de posse de Geisel. O pronunciamento levou Chico Pinto à cadeia, mas não o tirou do combate, até desistir do parlamento e deixar de concorrer à reeleição em 1990. Diante do que vê em Brasília, Chico Pinto não se arrepende da decisão. A Bahia e a Nação é que sentem falta de parlamentares como ele. Saúde para o guerreiro.



Vitor Hugo é jornalista

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Entrastes a cavalheiro, e agora que tens que ir estas muito mais fera.

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