A situação mais complexa, grave e perigosa do momento no Oriente Médio envolve a Turquia, os Estados Unidos e a União Européia. Começou com o deslocamento de 150 mil soldados turcos, com artilharia e blindados, para a fronteira com o Iraque, numa região habitada nos dois lados sobretudo por curdos. Pode terminar com uma intervenção armada, a retirada da Turquia da Otan, a destruição das esperanças curdas de ingressar na União Européia e caos na única região relativamente calma no Iraque.
Há décadas os militares turcos estão envolvidos em combates com guerrilheiros curdos, que hoje operam principalmente de bases no Norte do Iraque. De acordo com os comandantes das Forças Armadas turcas, os americanos que ocupam o Iraque nada fazem para impedir as incursões de guerrilheiros curdos - dependem em boa parte dos partidos políticos curdos (aos quais os guerrilheiros são ligados) para operar a estabilização do Iraque.
Ao mesmo tempo, os militares turcos estão envolvidos num delicado jogo político interno. Eles são a principal força secular do país, oposta ao partido islamista (de tendência moderada) do primeiro-ministro Recep Erdogan, que nas últimas eleições teve 34% dos votos e comanda o Parlamento. O último golpe militar na Turquia foi em 1980, e o poder voltou a civis graças a mecanismos legais que dão às Forças Armadas um poder de intervenção considerado inaceitável, por exemplo, pela União Européia, com a qual os turcos negociam desde 2005.
Descontentes com o crescente prestígio dos islamistas, bastou que os militares turcos insinuassem a possibilidade de uma nova intervenção, em abril - postada no site oficial do Estado Maior das Forças Armadas - para que o primeiro ministro Erdogan antecipasse as eleições gerais para o próximo dia 22 de julho. As pesquisas indicam que os islamistas podem conseguir um resultado ainda melhor do que alcançaram na última votação.
Erdogan foi um dos poucos políticos turcos que tentaram reduzir os poderes dos militares, mas sua margem de manobra parece agora consideravelmente reduzida - e torna-se ainda mais estreita a cada baixa turca produzida por ataques curdos na área de fronteira. Os militares estão oficialmente esperando uma ordem dos políticos para atacar o inimigo no Norte do Iraque; como a ordem não vem, dizem eles, é do governo civil a culpa por cada militar morto.
O argumento tem enorme receptividade entre nacionalistas curdos, cada vez mais antiamericanos, um sentimento excepcionalmente forte também entre os militares. A Turquia já foi o principal aliado dos Estados Unidos na região durante a Guerra Fria. Uma das principais bases aéreas americanas está ainda na Turquia. Preocupados com a ampliação do conflito no Iraque (que muitos consideram inevitável, com a entrada da Turquia e do Irã) os americanos são categoricamente contra qualquer operação turca no Curdistão iraquiano - mais lenha na fogueira antiamericana na Turquia.
Quanto a mobilização militar turca significa a volta dos militares turcos ao comando do país, impulsionados por jovens oficiais, ainda é uma questão em aberto. No caloroso debate interno, está claro que os jovens oficiais não mais se importam em entrar na União Européia, que consideram responsável por várias humilhações públicas da Turquia, e muito menos se importam em manter "amizade" com os Estados Unidos. Ao mesmo tempo, não admitem que o secularismo liderado pelo seu grande líder do passado, Ataturk, seja desmanchado - não importa o resultado das urnas em julho.
O degelo nas montanhas do Curdistão, que se estendem do Norte do Iraque ao Irã, Armênia, Síria e Turquia, é normalmente a época do ano em que todos os lados fazem mobilizações militares, acompanhadas da inevitável tensão política. Desta vez, porém, a situação interna turca mostra que um rearranjo radical de alianças e amizades é possível - de acordo com alguns cenários, até inevitável.
Nenhum deles trará qualquer conforto a Washington.
William Waack
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terça-feira, 12 de junho de 2007
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